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Centros da Juventude encaminham jovens trans para registrarem nome social e exercerem cidadania

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Pietra Rafaela Dorneles exibe seu documento de identidade atualizado
Pietra Rafaela Dorneles exibe seu documento de identidade atualizado - Foto: Alessandro Sasso
Por Alessandro Sasso

A primeira vez que Daniela Lopes, jovem trans de 17 anos, foi solicitada a informar seu nome social em um local foi no Centro da Juventude (CJ) de Alvorada. Já Pietra Rafaela Dorneles, que tem a mesma idade, nem sabia com clareza o que significava esse termo quando se inscreveu no CJ Lomba do Pinheiro. 

Hoje em dia, com assistência desses espaços que integram o Programa de Oportunidades e Direitos (POD) da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH) do Governo do Estado do RS, ambas já possuem seus nomes sociais registrados em seus documentos de identidade. Mas, para acessarem esse serviço tiveram que percorrer um caminho que envolveu - e ainda envolve - ter consciência de quem são na sociedade e quais são os seus direitos como cidadãs. 

Segundo elas - que são de regiões opostas da Grande Porto Alegre, mas possuem proximidade em suas hisrias - a entrada para os Centros da Juventude foi determinante no rumo em que suas vidas estão tomando. 

Daniela Lopes do CJ Alvorada
Daniela Lopes do CJ Alvorada - Foto: Alessandro Sasso

“Aqui no CJ eu me descobri. Antes eu achava que eu era uma pessoa quieta e introvertida, mas agora eu sei que eu sou uma pessoa falante, expressiva e que gosta de se relacionar. O que eu tinha era medo”, conta Daniela. Pietra teve ainda mais dificuldades, porque seu silêncio a prejudicou de maneira mais grave. “Eu não tinha me entendido ainda como mulher trans, então eu não me sentia bem em lugar nenhum. Eu não via sentido em ir à escola, por exemplo. A depressão foi tomando conta”. 

Esses problemas se dão por conta da falta de inclusão desse grupo na sociedade de um modo geral. O Brasil está pelo 14º ano consecutivo no topo de países que mais contabilizam assassinatos de pessoas trans, segundo relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Em qualquer lugar, uma mulher trans pode virar alvo por qualquer coisa que ela faça. Seja de olhares, piadas ou de violência”, afirma Daniela. 

Nos Centros da Juventude pessoas trans podem encontrar uma realidade diferente, mais inclusiva e acolhedora, de acordo com Pietra. “Aqui eu posso ser quem eu sou sem me preocupar com o que vão falar. Hoje em dia eu me sinto feliz em socializar e fazer novos amigos. Nos CJ não se faz nenhuma distinção entre as pessoas, todas são iguais e se respeitam. Só estando aqui pra saber o quanto é bom”. 

Em relação ao nome social, Daniela afirma que não se trata apenas de um documento, mas da conquista da autoestima e confiança que precisa para o dia a dia. “Agora eu não vou mais passar problemas de errarem meus pronomes na hora apresentar meu documento em qualquer local que seja, então isso me ajuda a ficar mais confortável e frequentar qualquer espaço com mais dignidade”.

Pietra no Instituto Geral de Perícias no dia em que encaminhou a atualização do seu documento de identidade
Pietra no Instituto Geral de Perícias no dia em que encaminhou a atualização do seu documento de identidade
Apesar de ser um direito básico, Pietra não sabia que existia a possibilidade de registrarem o nome que escolheu para si em seu documento de identidade. “Se não fosse a equipe técnica do CJ eu nem teria esse registro até hoje, porque eu não tinha conhecimento de que isso era possível. Depois que eu entrei aqui comecei a entender muito mais de direitos humanos e me sinto mais capaz de exercer a minha cidadania”, relata. 

Para além da socialização, os jovens também são direcionados em relação ao mercado de trabalho, tendo acesso não só a cursos profissionalizantes e de idiomas, como também - principalmente no eixo Jovem Multiplicador - a buscarem sua autonomia e emancipação como cidadãos. 

Daniela conta que não tinha nenhuma perspectiva em relação ao âmbito profissional de sua vida. “É muito raro ver uma pessoa trans trabalhando em qualquer lugar que seja. Mas, aqui no CJ Alvorada eu tive a possibilidade de ter a minha primeira atividade remunerada, que é sendo jovem multiplicadora e recebendo a bolsa-auxílio que é muito importante pra mim”. 

Pietra, que antes nem pensava em terminar a escola, hoje em dia tem o sonho de estudar psicologia. “Eu tenho o sonho de ser psicóloga e eu sei que com a ajuda da equipe técnica do CJ eu vou conseguir. Quero provar que as pessoas trans também têm o direito de ter uma formação assim como qualquer outra”. Mesmo ciente das dificuldades que terá pela frente, ela se demonstra determinada. “Eu sei que vou ter que me esforçar o dobro para conseguir, mas eu vou fazer de tudo para me aceitarem e abrirem as portas pra mim. Foi isso que eu aprendi aqui.”, conclui. 

POD